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Arilza Coraça chega a 50 anos dedicados ao basquete Andreense

Técnica da equipe adulta feminina de Santo André fala sobre escolhas e tabus sofridos pelas mulheres no esporte brasileiro

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC

Arilza Coraça completou recentemente 70 anos, 50 deles dedicados ao basquete de Santo André. Em 1971, foi aprovada por Paulo Albano dos Santos e passou a defender o time da cidade, pelo qual foi multicampeã, convocada às seleções paulista e brasileira, disputou Pan-Americano e Mundial e, em 1985, em razão de lesões, decidiu encerrar a carreira como atleta para passar adiante seu conhecimento. Conciliou a função de técnica das categorias de base com o cargo de auxiliar da inseparável companheira Laís Elena, até sua aposentadoria. Desde então, assumiu o bastão e comanda o time profissional feminino (com pequena janela na qual foi assistente de Bruno Guidorizzi). E, atualmente, faz os ajustes finais para a décima participação da equipe na Liga de Basquete Feminino – primeira campeã e única a disputar todas as edições da competição. 

E se tem algo que pouco mudou nestas cinco décadas dedicadas à formação e ao desenvolvimento da modalidade andreense é o abismo que existe entre o esporte masculino e o feminino. Nada melhor do que levantar este debate também na esfera esportiva neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Inclusive, Arilza será a única treinadora da Liga de Basquete Feminino, enquanto as outras sete equipes terão homens no comando. Mais uma mostra deste cenário desigual na modalidade que reflete em toda a estrutura desportiva, partindo desde a base dessa cadeia, formada pelas atletas. 

“A atleta mulher sente mais dificuldade do que o atleta homem em qualquer país. E no Brasil a diferença é gritante, porque muitas vezes o preconceito começa na família, o tabu se inicia em casa. Já aconteceu de eu descobrir menina talentosa e os pais não deixarem treinar porque queriam a formação dela como preparação para o lar, para cuidar da casa. Hoje mudou, melhorou, mas existe muito tabu e tratamento diferente. E o esporte masculino tem privilégio muito grande, basta ver a diferença de remuneração”, compara ela, que ainda lida e vê frequentemente mulheres em conflito com outras escolhas, como casamento e maternidade. No Santo André, entretanto, muito até pela atuação e instrução da técnica, há três mães no elenco: Letícia, Jaqueline e Sassá.

Natural de Itapira, no Interior, Arilza teve dentro de casa o apoio que falta a muitas meninas. “Minha maior incentivadora foi minha irmã, Antônia Coraça, que no domingo passado (28), veio a falecer (mal súbito). Minha professora de educação física, Dona Cida, foi quem me iniciou. E minha irmã que montou equipe para a gente disputar Jogos Regionais e Abertos”, recorda. “Depois, ela me trouxe para São Paulo para fazer faculdade na USP.”

E a partir da aprovação no teste para o time andreense, Arilza passou a fazer dupla jornada. Lecionava aulas de educação física e, à noite, treinava no extinto clube da Pirelli. Após concluir a faculdade, prestou concurso para dar aulas em Santo André, foi aprovada e se mudou definitivamente. Foi professora por 30 anos. “Ajudei a formar homens e mulheres”, celebra a treinadora, que vai além: “Percebo que mesmo aquelas que passaram por mim na iniciação e se tornaram atletas olímpicas ou foram para a Seleção Brasileira, o que mais valorizam é a formação integral que tiveram. Sempre tive preocupação em encaminhá-las e valorizar o estudo, porque paralelamente com a formação como atleta, me preocupava com a formação educacional.”

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Enquanto Arilza é exclusiva na LBF, recentemente, a norte-americana naturalizada russa e ex-armadora Becky Hammon, 43 anos, se tornou a primeira mulher a comandar um time na principal liga do mundo, à frente do San Antonio Spurs diante do Los Angeles Lakers após a expulsão do técnico Gregg Popovich. Segundo Arilza, esse fato tem grande relevância. “Foi a prova de que a mulher é tão competente quanto o homem e pode assumir qualquer função, em qualquer departamento, basta se preparar e estar disposta a cumprir as determinações que o cargo exige. Deve ser valorizado quem é competente, independentemente de gênero. Fiquei muito feliz por ela”, exalta.

Time acerta detalhes para a estreia

Santo André faz seus últimos ajustes para a estreia na edição 2021 da Liga de Basquete Feminino, a partir de sábado, contra o Ituano, no Interior. A equipe renovou com peças fundamentais como Ariadna, Jaqueline, Letícia, Lays e Maria Carolina, repatriou Sassá, trouxe Carol Ribeiro e Milena, conta com a argentina Pag Gonzales e ainda tem jovens da base, como Marcella, Aninha, Stephany e Aisha.

“Gostamos de desafios, pois desde a primeira edição da LBF e até hoje sabemos o quanto superamos e agora ainda mais, diante da pandemia que nos assola e nos leva a muita superação e aprendizado”, destaca a técnica Arilza Coraça. “Hoje posso falar com certeza que, em todos estes anos e em todas as edições da Liga de Basquete Feminina, somos vencedoras e estimulamos todas nossas atletas para que pudéssemos, entre outras coisas, formar a atleta, a cidadã e, acima de tudo, mulheres de bem, que são espelhos e também para as da base que se espelham nas adultas. Santo André entra para a disputa desta LBF com uma equipe muito competitiva. Chegaremos preparados para a competição, visando mais um título”, conclui. 

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